Hölle Carogne é Artista e Ocultista. Iniciou seus estudos em Dança Oriental no ano de 2007, tendo voltado seu interesse para o estudo do Tribal Fusion no início de 2011. Atualmente desenvolve um trabalho focado em Performance Ritual, Fusões Experimentais, Dark Fusion, Butoh e Cabaret Fusion. Acredita que um corpo potente é aquele que enxerga a poética dos conflitos internos. Seu método de trabalho gira em torno da pesquisa do movimento. Utiliza-se de ferramentas como a escrita criativa, meditação, imaginação ativa e diversas práticas ancoradas no ocultismo (principalmente alquimia, hermetismo, thelema e magia do caos). É escritora amadora, poeta desde que se conhece por gente, mas ainda não publicou nenhum de seus escritos. Sua busca artística consiste em uma tentativa de autoconhecimento e evolução pessoal. Vislumbra o corpo como ferramenta ritualística e a dança como possibilidade de transcendência.
Procedimento #6 inicia com um aviso: “Quando a porta for fechada, ninguém mais poderá entrar.” Soa importante, especial. Enquanto escolho um lugar para sentar, me sinto observada. Ao olhar para o palco, confirmo a sensação: Na tela estão sendo projetadas filmagens feitas do público. Bastam alguns segundos até alguém reconhecer seu próprio rosto e o constrangimento (ou a timidez) vir à tona. O público não é mais mero espectador, ele está ali, no palco, refletido em - mais uma - tela. Ele faz parte dessa construção que nem bem iniciou ainda, mas já semeia muitas reflexões.
Quantos de nós existem?
Existe a pessoa sentada ali, pronta para assistir ao espetáculo. Existe o rosto suspenso na tela, que ainda não foi percebido pelo dono. Existe aquele outro que acabou de se reconhecer e se apropriou de si mesmo. Aquele outro que surge com risinhos e bochechas coradas diante da exposição…
Procedimento #6 começa (para mim) com essa indagação: Quantos de nós existem?
A bailarina entra e confirma que Dela, existem muitas. Ela não tem dois braços, mas quatro, seis, oito. Várias Dela surgem e interagem entre si, sobre si. Ela do passado, ela do presente, ela do futuro, ela natural, ela artificial, ela humana, ela imagem, ela de carne e osso, ela de fragmentos de memória. O tempo definitivamente não existe! Ainda existe o humano?
São muitos estímulos visuais e sonoros que evocam uma sensação antagônica de passado (televisores fora do ar e seus ruídos brancos, ondas de rádio e seus mistérios invisíveis, fenômenos ao estilo poltergeist) e futuro (ciborgues e sua composição metade humano e metade máquina). Cenário e figurino (de um branco muito limpo) ampliam essa sensação de uma coisa que são muitas e que acontecem todas ao mesmo tempo, colidindo entre si e se alterando mutuamente.
A dança acontece entre muitas pausas, poses, micromovimentos e pequenas acrobacias. São corpos em constante movimento, que parecem, às vezes, não se reconhecer.
As imagens despertam muitos sentimentos, mas me recordo vivamente de um, em que Ela de Carne e Osso está trancada em um cubículo de quatro paredes e grandes mãos surgem no “vidro”. É como se as mãos de todas Dela dissessem: “Basta!” Então, Ela de Carne e Osso grita... Um grito tímido. Eu quase não vejo, quase não escuto. Olho para Ela e sinto o quanto ainda haveria para gritar. Sinto o grito na minha garganta. Sinto o desejo subindo pelo meu corpo: Queria que ela continuasse gritando… Por todas Dela, por todas de Mim, por todos de Nós Todos.
Ficha Técnica:
Concepção e Direção: Jackeline Mourão
Criação, Coreografia e Performance: Jackeline Mourão e Reginaldo Borges
Criações e manipulação interativa de imagem e som: Reginaldo Borges
Co-criação visual e Trilha sonora: Rafael Mareco
Assessoria Artística: Renata Leoni
Produção Técnica: Maura Menezes
Produção Executiva: Roberta Siqueira
Figurinista: Dayane Bento
Criação de cenário: Reginaldo Borges
Paratextos: Febraro de Oliveira
Fotografias: Helton Perez (Vaca azul)
Desenho Gráfico: Jonatan Kluk