João Manoel Jannes Soares,29 anos, nasceu em Porto Alegre em 1995.Seu envolvimento com a Dança iniciou-se no ano de 2009, a partir daí fez parte de vários projetos coreográficos como: Espetáculo Nossa Cara do Grupo Restinga Crew (2012), Espetáculo Retrospectiva do Grupo New School Dreams nos anos de 2013 e 2014, e passou por vários festivais nesse período. Com isso o interesse pela dança só aumentou, então no segundo semestre do ano de 2015 ele foi convidado a fazer parte do Coletivo Jeroquis, onde experimentou a fusão das Danças Urbanas com a Dança contemporânea onde dançava Breaking. Após seus estudos de dança se ampliaram quando começou a fazer aulas de outras modalidades como dança contemporânea e dança de salão. Em 2023 fez parto do Grupo Experimental de Dança (GED) como intérprete criador e bailarino, dançou na mostra do GED, onde também auxiliou na produção e na sonoplastia e em dezembro dançou no Espetáculo “O que eu encontro ,quando venho te Encontrar” Hoje estuda Hip Hop Freestyle tendo como seus estilo de base e também compete em batalhas regionais de Hip Hop e All Style, mas também se aventura no meio da dança contemporânea. Já participou de oficinas de dança, cursos de produção cultural e hoje é graduando em Dança na UERGS, e também participa do projeto “Peixes que Dançam", dirigido pela diretora Camila Vergara.
O que dizer sobre esse espetáculo que traz a ancestralidade de uma forma tão sensível e acolhedora?
Simplesmente me tocou e assumo o lugar de espectador e não só da critica.Me impactou muito o inicio de cena com as 12 xícaras e os 12 ebós(oferendas aos antepassados),para quem é de terreiro sabe o significado da cozinha, o significado da comida bem servida,do quão nutritivo é tanto para saúde,quanto pra alma oferendar alguém que nos foi importante,ainda mais uma família…fechando a conta tínhamos 13 elementos em cena, podemos falar do número 13, ou das 13 alma benditas na bruxaria popular e a textura delicada do saber popular diante de nós.
Uma das coisas que me incomodou no início foi o video, mas conforme o tempo ia passando, deu a sensação de que a intérprete e o vídeo se misturavam na cena, como se fosse uma coisa. Outra coisa que ficou evidente era a intimidade dela como os elementos em cena, voltando a premissa do terreiro da incorporação, de que quando entramos em estado de transe o tempo tem a dilatar, porém o movimento acontece, as coisas se tornam contínuas e fluidas, histórias são contadas, músicas são cantadas, o sensorial se torna aguçado e a ancestralidade se torna ainda mais viva dentro de cada um de nós.
Um amigo sempre fala que a ancestralidade é carregada pelo dna, mas antes disso é carregar pela memória, por aquilo que traz significado tanto para gente, quanto pra quem está nos percebendo, e a intérprete mostrou isso de uma forma tão sutil dentro dos seus ritos, quando dei conta de mim, estava preso na história, como se fosse minha.
São chaves de acesso, pelo menos pra mim, que morei a vida toda no mato (quase roça), que sempre gostei muito de ouvir e observar quem veio antes de mim, que pra mim o espetáculo não acabou, ele simplesmente incorporou cada uma das pessoas que foram ali prestigiar, e que se sentiram acolhidas nas suas próprias histórias se tornam alicerces sejam eles de adobe ou de emoções.
(Adobe são aquelas pedras que ficam no fundo do rio,podemos chamar de Òcutá que são as pedras que se assentam os orixás ou forças da natureza.)
Toda a pedra rolada tem uma história pra contar…
Agarrar em si, sustentar o outro, mecanismos de defesas em comunhão exalam o cheiro da vida."
Quando li o nome do espetáculo me lembrou a figura de Tanatos longe dos campos Eliseos vagando, a noite nas ruas de Porto Alegre. Se sustentando na vontade de viver e não ser percebido em seus momentos vulneráveis.
Pensar que um animal que vive e tenta se proteger se fingindo de morto, acaba se tornando uma aposta muito alta, há de querer e não querer ser visto pela morte, mas viver é se encaminhar para morte.
-É sempre um dia a menos.
Nunca um dia a mais, do lado daqueles que amamos, um momento a mais com aqueles que nos querem bem, entrar em tanatose para talvez voltar para casa, talvez encontrar nossa familia, amigos, casa.
Entrar em estado de tapatose, é também se encontrar com a presença do outro, é também sentir o odor do outro e o que ele representa pra nós...
Abro esse relato com esse texto que me gerou inquietações ou foi o espetáculo em si, que me trouxe esse estado de sensibilidade.
Escrever sobre uma obra depois de um tempo é uma caixinha de surpresas, por que a memória divaga e muito do que me sobram são as imagens, a sonoridade, o estado de presença em cena. Foi muito lindo ver tanta gente dançando em cena e com tanta energia, rever amigos e reconhecê-los de outra forma, a Geórgia está de parabéns em conseguir conduzir uma turma tão grande diversificada e no fundo de cada movimento dava pra ver um ruído da movimentação dela.
Lembro que no início fiquei procurando algo que mostrasse como seria a obra, e com o passar das cenas, foi me engolindo aos poucos, parecia que eu sentia o que estavam sentindo, parecia que eu estava ali com aqueles toques, sentindo aquela angústia, sentindo arrepio, mas é a sensação que se tem quando o espetáculo rompe a barreira com o público e a "Sala Alvaro Moreira" proporciona isso muito bem. Me deu vontade de ver em um espaço maior, ou talvez até pelo centro da cidade, como uma espécie de flashmob, onde os artistas se fundiam com o civis e a sensação de preenchimento que todas aquelas pessoas iriam causar, gerando impacto, tombos, abraços, movimentos, caos.
A trilha sonora, figurinos e luz foram espetaculares, aliás toda a produção está de parabéns, e a organização do GED que é um espaço que resiste e consegue extrair o potencial de tanta gente, até de quem vai assistir.
Enfim, no texto inicial trouxe alguns significados que ficaram claros para mim depois que assisti e fui atrás da palavra "tanatose", e foi interessante pensar e tentar se colocar num lugar de sobrevivência, num lugar onde o outro é o importante diante suas ações, movimentos, sentimentos e presença. Conseguir trazer isso para o público gera um tipo de emoção que acaba sendo confusa, mas que cutuca, e logo entramos em tapatose, por que a exposição nos gera medo, se mostrar vulnerável nos gera medo, nos paralisa, no deixa em tanatose, mas só quando carregamos a nossa vida nas costas que criamos coragem de encarar o outro, os medos, as inseguranças. Só quando deixamos de fingir e começamos a perceber que estamos vivos que os nossos estados de alerta tomam outro rumo, ocupam outra dimensão. Enfim, viver é isso, muitas vezes é fingir que está morto pra não ter dor de cabeça.
TANATOSE - Grupo Experimental de Dança
17/12/2024
Ficha técnica:
Elenco: Adrielle Figueiró, Apolonia Ceci, Atana Pessoa, Baubo Campanella, Bela Becker,
Caliope Lange, Clara Grassi, Chris Goschek, Enzo Zuboski, Eayola Ferreira, Frederico
Vasques, Gabriela João, Grapi Lianx, Kairo Ferreira, Kadri, Karina Sieben, Laura
Fernandes, lui karana, Li Pereira, Maiara Power, Vel Berlese, Yasmin (Mimi);
Direção: Geórgia Macedo;
Figurino: Enzo Zuboski e Vel Berlese;
Iluminação: Douglas Jung;
Operação de som: Laura Backes;
Pesquisa de trilha sonora: Geórgia Macedo;
Edição de trilha sonora: Gabriela João;
Arte gráfica: Bela Becker e Gabriela João;
Redes Sociais: Graci Lianx e Yasmin (Mimi).